AIPA

O imigrante do mês - o dentista brasileiro Marcelo Sanderberg

Quem é Marcelo Sanderberg? Marcelo Sardenberg, nascido, há 33 anos, em Recife no Estado de Pernambuco, Brasil, onde viveu os primeiros três anos da sua infância. Cresceu e estudou em S. Paulo para onde a família se havia mudado. Completou os estudos superiores na Faculdade de Odontologia da Igreja Metodista de Lins em S. Paulo. A sua carreira profissional como médico dentista iniciou-se na Perfeitura de S. Paulo, onde desenvolveu trabalho com crianças e gestantes, e numa clínica privada. Muito cedo despertou, neste brasileiro bisneto de um português de Vila Nova de Gaia, o desejo de viver na Europa. A concretização do sonho aconteceu em 2004, ano em que chegou a Lisboa com a alma repleta de esperança e de vontade de no país que também é dele, pelo sangue e pela língua, construir uma nova vida neste lado do mundo onde as oportunidades e a segurança de lhe proporcionassem estabilidade e tranquilidade. Após uma passagem por Lisboa onde sofreu todas as “sevícias” da burocracia portuguesa, dos interesses corporativistas e do trabalho clandestino e sem direitos, Marcelo Sanderberg fixou-se nos Açores e, em associação com um colega de profissão, abriu a Clínica D’Ágoa, onde exerce a sua profissão cuidando da saúde dentária dos açorianos. Marcelo Sardenberg colabora graciosa e voluntariamente com a Associação de Pais e Amigos de Crianças Deficientes e é o responsável do departamento do Brasil da Associação de Imigrantes nos Açores. Para além do espírito solidário, Marcelo tem a música como uma das suas paixões. Ficamos a aguardar que esta paixão dê frutos e encha de sons luso-tropicais estas ilhas que procurou para viver. Um brasileiro nos Açores A fixação de alguns cidadãos brasileiros nos Açores não é de hoje, já na década de oitenta aqui residia uma pequena comunidade constituída essencialmente por quadros superiores integrados em actividades privadas e públicas. O advento do século XXI veio engrossar a comunidade brasileira sendo, hoje, a par dos ucranianos e dos cabo-verdianos uma das três nacionalidades mais representadas no universo da imigração açoriana, à semelhança com a realidade nacional em relação a distribuição das comunidades de imigrantes. Rumos Cruzados conversou com Marcelo Sardenberg sobre as motivações que o levaram a deixar S. Paulo, onde já exercia clínica dentária e, partir à descoberta do velho mundo. A informação colhida junto da Casa de Portugal em S. Paulo sobre as possibilidades de reconhecimento das qualificações académicas e profissionais, que mais tarde se mostraram insuficientes e mesmo erradas, foram essenciais para a tomada de decisão de emigrar. Atrás deixou a sua banda de música e o trabalho em duas clínicas privadas. Chegado a Lisboa em Setembro de 2000 Marcelo cedo verificou, com surpresa, que afinal teria de percorrer um longo calvário para obter reconhecimento e trabalhar dentro do quadro legal. A inscrição no fisco foi feita sem perguntas e a obtenção de equiparação académica pela universidade, apesar de ter demorado cerca de um ano, decorreu dentro da normalidade que caracteriza os processos burocráticos em Portugal. Mas Marcelo tinha ainda um longo caminho a percorrer entre o SEF e a Ordem dos Médicos até conseguir sair do trabalho clandestino a que se tinha sujeito para sobreviver e que as informações que tinha colhido, junto dos serviços consulares portugueses no Brasil, nada faziam prever. O processo de regularização de Marcelo concluiu-se ao fim de 3 anos durante os quais foi um cidadão sem direitos, humilhado e explorado, quer pelos colegas portugueses, quer por compatriotas de profissão. Hoje, Marcelo compreende que as razões e as dificuldades que lhe foram em Portugal poderiam ser evitadas se os serviços consulares portugueses e os “serviços de imigração” trabalhassem de forma articulada e a informação fosse rigorosa e as regras claras, o que leva Marcelo a dizer que um dos aspectos mais negativos da política de imigração em Portugal é que o sistema: “empurra as pessoas para a ilegalidade”. Uma proposta de trabalho aliciante, a tranquilidade e a beleza destas ilhas foram determinantes para a fixação nos Açores. A integração na sociedade açoriana não tem sido difícil, reconhecendo, no entanto, que o facto de ser branco e possuir formação superior contribuiu para a sua aceitação. A corrupção e as limitações impostas pelos países, do chamado, primeiro mundo são, na opinião de Marcelo Sardenberg, dois dos problemas que travam o desenvolvimento do Brasil uma, ainda, jovem democracia que “está aprendendo com os erros”.

Publicado: Quinta, 21 Outubro, 2004

Retroceder

Associe-se a nós AIPA

Agenda

Subscreva a nossa newsletter