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Jovens dão a conhecer o rap cabo-verdiano na ilha Terceira

No programa “O Mundo Aqui” do dia 26 de janeiro fomos até à ilha Terceira, onde conversamos com o jovem cabo-verdiano Gilson Ribeiro. Falamos sobre o seu percurso migratório e artístico.

Os Açores têm, hoje, um número considerável de jovens imigrantes e descendentes, espalhados pelas nove ilhas. Gilson Ribeiro faz parte do grupo de jovens que cedo teve de partir de casa e enfrentar todas as barreiras da imigração. Tem 19 anos e é natural do Tarrafal, ilha de Santiago.

Há cerca de 5 anos veio viver para a Terceira com o pai e um irmão, e nesta ilha fundou um grupo de rap, o B-Unit, constituído por seis jovens cabo-verdianos.

Nas suas palavras ouve-se já o sotaque terceirense, uma prova da sua integração, mas de Cabo Verde nunca se esquece e todos os dias sente saudades. “Tenho muitas saudades do Tarrafal. Adoro aquelas praias e aquela cidade. Para mim, mais que viver uma vida, foi viver um sonho. Espero um dia poder continuar este sonho”.

O pai já estava na ilha Terceira a trabalhar e passados uns anos, Gilson e o seu irmão vieram ao seu encontro. Para este jovem cabo-verdiano, “foi uma boa experiência, vir para o outro lado do mundo, conhecer pessoas e modos de ser diferentes”.

Sobre a chegada diz que sentiu “um grande impacto”. “Gostei muito porque vi um mundo que nunca pensei que um dia fosse conhecer”, disse. Porém, a partida foi difícil. “Eu nem consegui apertar a minha mão à do meu irmão para dizer um adeus”. Confessa que se sentia feliz por vir, mas triste por deixar a família e os amigos.

Hoje, gosta de viver nos Açores e conta que quase se sente terceirense, mas a integração também não foi fácil. Explica que na primeira semana da sua chegada já queria voltar para Cabo Verde. “Estava sempre a chorar por causa da minha mãe e dos meus amigos”, acrescenta. O pai convenceu-o a ficar e, passado uns meses, Gilson integrou-se na sociedade. Agora adora a ilha, a pronúncia e até já gosta das touradas.

Dos amigos de infância nunca se esquece e, através das redes sociais, mantém contacto com eles. “Costumam dizer que eu já me esqueci deles mas um amigo para mim é como se fosse família e é óbvio que nunca me esqueço”.

A vivência na ilha Terceira pô-lo em contacto com outros jovens cabo-verdianos imigrantes e descendentes, e com alguns destes fez uma grande amizade. Uma união que resultou na constituição do grupo de rap, B – Unit, e no início da realização do sonho de Gilson.

Este é o primeiro grupo de rap nos Açores, fundado por jovens cabo-verdianos, e que pretende espalhar a sua cultura de origem nas ilhas açorianas, através do hip hop crioulo.

Gilson Ribeiro conta que em Cabo Verde tinha o sonho de compor e gravas as suas próprias músicas. Mas a idade não lhe permitiu. “Na altura ainda era uma criança e os produtores diziam que eu era muito novo para fazer aquilo. Fiquei muito chateado, porque não compreendia”. Hoje reconhece que eles tinham razão e agora dão-lhe os parabéns pelo grupo que formou e pelo trabalho que tem feito.

As músicas dos B - Unit popularizaram-se e chegaram aos ouvidos dos jovens açorianos através dos videoclipes publicados no youtube. Segundo o fundador da banda, no início não tinham esperança que o projeto seguisse em frente. Mas a família, os amigos e os amantes do rap deram apoio ao grupo e surgiram-se alguns concertos. “Somos rappers mas colocamos pelo meio outros géneros de música como o quizomba e o kuduro. O nosso objetivo é que façamos coisas diferentes e originais”.

As letras das suas músicas transmitem a amizade entre eles, a emigração e questões sociais. No mundo que os rodeia tudo pode ser motivo para mais uma música.

Quanto ao género, o rap ou o hip hop, Gilson tem a noção que pode atingir apenas as camadas mais jovens. “Os adultos não gostam e alguns até têm certos preconceitos em relação ao rap”, conta. Por isso, o grupo já está a pensar no tema para a próxima música. “Iremos fazer uma música em que explicamos o que é o rap e por que gostamos de o fazer”. Ninguém é obrigado a gostar mas os B – Unit vão continuar a mostrar aquilo que têm para dar.

O grupo que foi inicialmente criado como um passatempo destes jovens cresceu e foi ganhando mais público. “Estamos sempre à espera de novas oportunidades e vamos trabalhar para que o nosso sonho se concretize. Vou continuar a entregar-me a este grupo de corpo e alma. É agora ou nunca”.

Publicado: Quinta, 07 Fevereiro, 2013

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