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Festival "O Mundo Aqui"na ilha Terceira

Crise deixa imigrantes ainda mais vulneráveis

A quarta edição do festival “O mundo aqui”, organizado pela AIPA, decorre em Ponta Delgada no início de Novembro. Quais as temáticas centrais que estarão subjacentes neste encontro?

Iremos privilegiar a gastronomia e música das diferentes comunidades que vivem nos Açores, como forma de contribuirmos para a tal ponte cultural entre a sociedade açoriana e os imigrantes. Para nós só faz sentido realizar este tipo de evento valorizando a cultura açoriana, dando oportunidade dos imigrantes partilharem as suas culturas, ao mesmo tempo que criamos espaços para o conhecimento de manifestações de outros espaços geográficos. Das seis bandas que irão participar, temos uma banda açoriana (Bandarra), projetos culturais que foram germinados aqui nos Açores e resultados de um verdadeiro e estimulante encontro cultural, como são os casos da Vânia Dilac & Banda Negra, Maninho e Zeca Medeiros, Afrocuban. Contamos ainda com Tó Alves (Cabo Verde), José Galissa, que irá tocar um instrumento típico da Guiné-bissau (Kora), um trio de imigrantes da Ucrânia residentes em Leiria e Xico Barata, de Angola. Na gastronomia, iremos ter sabores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau e Macau. Não queremos fazer este tipo de evento só porque é engraçado. Queremos, acima de tudo, potenciar as relações humanas e culturais. Cada um de nós tem a legitimidade de ver o mundo da forma como entende, sem entrar na hierarquização deste mesmo olhar.

 

Percebe-se pelo programa uma grande atenção à música de muitos países. Porquê a eleição da música como fio condutor do encontro?

 

A música, em particular, tem a força de nos ajudar a conhecer e a interagir com o outro. Simultaneamente, a música é de todos os espaços e de espaço nenhum, não tem fronteiras. Esta força que a cultura transpira poderá ajudar-nos a perceber um pouco a mobilidade humana e tentar construir um mundo melhor, mesmo aqui, no meio do atlântico.

 

Nos períodos de crise, como o que vivemos, a história prova que pode haver alguma má relação com os imigrantes. Ainda há espaço nos Açores para esses comportamentos ou já percebemos que somos todos e/imigrantes?

 

Existe um discurso politicamente correto e outro mais escondido, que tende a aparecer em situações de crise. Numa situação de desemprego, o outro tende a ser olhado como um intruso. Hoje, Angola e Brasil estão a receber muitos portugueses. Estou sempre a dizer que os açorianos conhecem como ninguém as contradições das migrações.

Estou certo que os açorianos perceberão que todos nós (açorianos de coração e de nascimento) seremos necessários para encontrar novos caminhos de desenvolvimento e de bem-estar.

 

Como tem evoluído o movimento da imigração nos Açores nos últimos tempos? Continua, há refluxo, o que se passa?

 

Estamos numa fase de estabilização. Estamos a assistir o retorno de alguns imigrantes. Hoje, esta estabilização dos fluxos migratórios favorece um trabalho de integração qualitativamente superior. O desemprego e a vulnerabilidade dos imigrantes são, infelizmente, muito maiores e, por isso, estamos atentos também nas respostas a situações mais gritantes de exclusão.

Diário Insular, 22 de Outubro de 2011.

Publicado: Terça, 25 Outubro, 2011

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