Carina Martín Melo é argentina, imigrante e empreendedora. Esgotaríamos o texto, tentado partilhar com o leitor outras palavras que pudessem caracterizar a nossa entrevistada de hoje. Para compreender a sua história, é importante frisar que é terceirense; ou melhor: que também é terceirense. Em miúda passava o tempo todo a ouvir, na voz da saudosista avó Florinda - natural de Santa Barbara na ilha Terceira - as histórias, a descrição pormenorizada de cada canto da ilha, as formas das casas, as paisagens, as músicas, a maneira de ser e de estar dos terceirenses.
A Argentina foi confrontada, nos finais do ano 80, por uma intensa crise financeira. A reforma monetária e o “Plano de Convertibilidade” impostos pelos credores internacionais fizeram aumentar, de forma brutal, o desemprego.
Carina, cabeleireira e maquilhadora de profissão e proprietária com o irmão do estabelecimento “Martin Cabeleireiros”, vivia, na altura da crise na Argentina, com os pais (o pai exercia a profissão de serralheiro) na cidade de Rosário, da província de Santa Fé, cuja atividade económica estava muito dependente do consumo interno. Perante a situação difícil, a família reuniu e de forma ponderada entenderam que a única solução seria sair da Argentina. Em cima da mesa tinham duas opções: os Açores - já que a mãe é terceirense - ou a Itália, motivados pela ligação do pai que é descendente de italianos. Depois de muita reflexão, a escolha recaiu sobre a ilha Terceira e em outubro de 1991 lá desembarcaram. Antes mesmo de a questionarmos, Carina, partilha o sentimento que viveu quando chegou à terra que, apesar de longe geograficamente, era também dela: “cheguei no Outono, as festas já tinham terminado. Quando pisei o aeroporto, respirei fundo e comecei a ver a imagem tal e qual a minha avó Florinda descrevera. Guardo a imagem - jamais irei esquecer - do reencontro da minha avó com as suas irmãs, depois de 40 anos de separação”.
Não se concentra muito nas dificuldades, até porque a dificuldade maior foi “se calhar ter de adaptar-me a um espaço com pouco mais de 67 mil pessoas depois de viver numa cidade com mais de 4 milhões de habitantes”.
Apesar de se sentir açoriana, o certo é que, de igual modo, a Argentina faz parte dela e a gastronomia é o tal elo de ligação que quase todos os imigrantes utilizam para manter a presença cultural viva: “tomo o meu “mate” (uma espécie de chá que se toma com uma palha de metal), o “el assado” (churrasco) aos domingos e um doce de leite, fazem parte da minha rotina”.
No final da nossa conversa, desafiamos a nossa entrevistada a partilhar o que mais gosta nos Açores e o contrário: “as paisagens são o que mais gosto dos Açores; o que menos gosto é o preço das passagens aéreas para os residentes”.
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