Manuel Neto tem 46 anos e é natural de Goiania, Brasil. Em 2008 veio pela primeira vez aos Açores para conhecer a ilha de São Miguel. Mas foi na terceira que se casou, onde reside desde 2010.
Da primeira viagem que fez a São Miguel, diz que teve dificuldades em perceber o sotaque. “Não entendia nada do que eles diziam. Falavam português, mas parecia mais com francês”, disse. No entanto, em 2009, por altura do Carnaval, veio novamente a Ponta Delgada e teve também a oportunidade de conhecer a Terceira. Foi pelas pessoas desta ilha que se encantou e onde veio a estabelecer família por afinidade. Sobre o acolhimento dos açorianos refere que se sentiu muito bem recebido na Terceira. “Melhor do que em Ponta Delgada”. Reforça que em diversos aspetos da sua vida, como o trabalho, foi muito bem acolhido. “Foi surpreendente”, disse. Todavia, não deixou de enfrentar alguns entraves, sobretudo, “com a documentação para trabalhar”. Com cerca de 26 anos de experiência como cabeleireiro, com toda a formação na área e sindicalizado na Associação dos Cabeleireiros do Brasil, Manoel Neto lamenta que tenha tido dificuldades com a validação da sua documentação de trabalho. “Tive que comprovar as minhas habilidades como profissional de cabeleireiro”, contou. Mas nem por isso deixou de ter oportunidade para exercer sua atividade. “Recebi um convite para trabalhar em forma de pareceria como cabeleireiro numa clínica de nutrição, estética e bem-estar em Angra do Heroísmo”. Manoel Neto começou muito cedo a exercer a sua profissão. Com apenas 16 anos já trabalhava como auxiliar de cabeleireiro. “Não tive muita oportunidade para estudar”, disse. Hoje decidiu voltar a agarrar-se aos livros. Através do programa Rede Valorizar, frequenta uma formação complementar para a conclusão do 12º ano de escolaridade. A sua vinda para os Açores permitiu-lhe este regresso aos estudos. “Aqui tenho mais qualidade de vida e tranquilidade. No Brasil era impossível”, declarou. À questão se teve dificuldades de adaptação responde: “Sim, com o clima!” Goiania, capital do estado de Goiás, é uma cidade em que predomina o clima tropical com estação seca e onde a temperatura é amena durante todo ano. E, por isso, para este brasileiro o clima dos Açores é muito frio e húmido, “o que me fez sofrer um pouco durante uns tempos”. Quanto ao seu país de origem, diz que tem uma relação “estritamente legal, com todos os direitos e deveres de um cidadão brasileiro. Justifico o meu voto, pois no meu país é obrigatório. Mas aqui também o faço”. Aproveitando o assunto questionamo-lo sobre o que pensa dos direitos de voto dos imigrantes. “Penso que é muito importante um imigrante votar. Falo por experiência própria, porque adquiri os direitos de igualdade do tratado de amizade de Porto Seguro e cumpro com todos os meus deveres”. E saudades do Brasil, sente? “Sinto muitíssimas saudades. Desde que cá cheguei nunca mais fui à minha terra”, diz. Acrescenta que a família, mas também o sol durante o ano inteiro, as praias de areia branca e o mar, fazem-lhe muita falta. E para matar estas saudades mantém-se sempre ligado ao Brasil. “Ligo todos os dias para minha casa, tenho quatro canais de televisão brasileiros e estou sempre informadíssimo de tudo o que acontece no país”. Quanto ao regresso, não esconde que é este o seu desejo. Mas refere que “quando se é casado, tudo tem que ser pensado a dois”. Para terminarmos pedimos que fizesse um balanço deste, ainda recente, percurso migratório. Ficou claro que emigrar nunca esteve nos seus planos: “Nunca tive interesse em sair do meu país, onde tinha uma vida estabilizada. Saí porque me casei e na ocasião também precisava de descansar e, por isso, juntei o útil ao agradável.”
Rumos Cruzados, 14 de junho de 2012.
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