Ruth Lopes nasceu em Cabo Verde, no Tarrafal, na ilha de Santiago. Há 6 anos veio para os Açores estudar e fez a licenciatura em Gestão, optando depois por começar a fazer o mestrado em Ciências Económicas.
O que te fez vir para os Açores?
O espírito de aventureira fez-me sair de Cabo Verde. Queria vir para um sítio calmo e sair “debaixo das asas” dos meus pais. Então optei por vir para os Açores.
Quais foram as principais dificuldades que sentiste no início?
Em termos de estudos senti um pouco de dificuldades na matemática, pois vim com poucas bases e haviam conteúdos que não tinha aprendido no liceu, em Cabo Verde. Esta situação dificultou-me um bocado porque também a turma era muito competitiva e havia um certo egoísmo entre os colegas. Eu vim para cá com um mês de aulas em atraso, com frequências para fazer e encontrava-me numa situação complicada, por sorte tive professores que compreenderam a minha situação e ajudaram-me a não desistir. A partir daí comecei a batalhar e tentei acompanhar o ritmo dos meus colegas. Adorei a universidade e os professores. A nível geral gosto de viver em São Miguel, é tudo muito calmo, pacífico e parecido com o lugar de onde vim, por isso, identifico-me imenso com esta ilha e não tive grandes dificuldades de adaptação.
Quando chegaste à ilha qual foi a primeira imagem que tiveste?
Eu quando cheguei cá não apanhei nenhum choque pois já tinha uma certa imagem de São Miguel. O meu namorado que já se encontrava na ilha tinha-me enviado fotografias e falado sobre os Açores. Apenas no início estranhei o sotaque micaelense, o clima muito húmido e as praias.
E Sentiste-te bem acolhida pelos açorianos?
Existem sempre aquelas pessoas que discriminam mas, de um modo geral, os açorianos trataram-me bem, senti-me bem acolhida e já fiz grandes amizades que, são para o resto da vida.
Como está agora a tua relação com Cabo Verde? Cabo Verde estará sempre presente na minha vida. Tento estar actualizada e a par do que se passa na minha terra, tanto é que todas as semanas visito sites e vejo as capas de jornais e revistas de Cabo Verde. Estou constantemente em contacto com a minha família, para saber novidades acerca do desenvolvimento do meu concelho e do sítio onde nasci. E é desta forma que tento nunca desligar de Cabo Verde, porque é a terra onde nasci e o lugar onde pretendo um dia regressar.
E do que é que sentes mais saudades de Cabo Verde?
Eu de lá sinto bastantes saudades da gastronomia, do carinho das pessoas, o lar da minha casa, a minha praia, enfim de imensas coisas.
Qual é a diferença que fazes entre o povo cabo-verdiano e o açoriano?
Eu sinto que o povo de Cabo Verde é muito mais acolhedor, simpático, são pessoas mais calorosas e atenciosas. Não digo que cá não haja pessoas assim mas, existem diferenças. Quando chegamos cá, por exemplo, sentimos que as pessoas são mais frias. Enquanto, lá somos capazes de abraçar e beijar uma pessoa amiga, aqui limitamo-nos porque podem interpretar de outra maneira.
Quais as perspectivas que tens para o futuro?
Em termos de perspectivas para o futuro não tenho muitas escolhas. Estou a um mês de terminar o mestrado e encontro-me desempregada, porque infelizmente não encontro trabalho na minha área. Então, as hipóteses que tenho são: ou fico cá a trabalhar na área da restauração que, é a única área onde consigo emprego ou então vou para minha terra e com um pouco de esforço talvez consiga um trabalho em Gestão. Se conseguir algo em São Miguel que me amadureça profissionalmente, sou capaz de ficar cá.
Rumos Cruzados, 7 de Abril de 2011.
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