«- Considera, aliás, que estas atividades de sociabilização sugerida serão o caminho a trilhar numa sociedade cada vez mais virada para dentro e cada vez menos preocupada com quem mora ao lado?
Tenho a convicção de que, apesar de não ser uma transformação que se produza de forma imediata, a realização deste tipo de atividades contribui para despertar sensibilidades e alertar para a importância do papel de cada um na criação de um mundo melhor, para todos.
Integrar é “tornar parte” e cabe-nos a todos nós, sem exceção, a responsabilidade de acolher a diversidade cultural existente na nossa sociedade e ver nela uma fonte de riqueza.
Acreditamos que deve ser este o caminho a seguir. Pelo que, por exemplo, este ano assumimos como eixo fulcral da nossa ação dar um forte impulso ao trabalho de informação e sensibilização que realizamos nas escolas, junto das crianças e jovens, porque são eles os adultos de amanha. Ambicionamos despertar nas crianças e jovens o espírito de embaixadores/as desta missão, para a igualdade, para a integração.
Na iniciativa “Família do Lado” são as famílias que dão o exemplo, aceitando o desafio de receber em sua casa uma família imigrante.
- Já nos tinha dito, noutras entrevistas, que às vezes as famílias locais têm dificuldade em sair das suas zonas de conforto. Este sentimento tem sido notório noutras atividades promovidas pela AIPA? Esta atitude pode provocar algum distanciamento entre locais e imigrantes?
Como referi anteriormente, creio que globalmente os açorianos recebem bem os imigrantes e as situações de discriminação (que existem), regra geral, não assumem contornos dramáticos. No entanto, tal não significa que as pessoas e as instituições não devam assumir uma postura mais ativa por esta integração, por esta diversidade, pela luta contra a discriminação, por uma melhor humanidade.
No caso concreto do projeto “Família do Lado”, certamente que as famílias que aceitem o desafio é porque se identificam com este espírito. Mas é importante fazê-lo. É importante que se inscrevam, que adiram à iniciativa, que assumam uma posição pró-activa. Não basta enaltecer uma ideia, uma iniciativa, um projeto. É preciso decidirmos fazer parte dele! Dizermos SIM aos desafios que nos são colocados, quando acreditamos neles e nos valores e princípios que os norteiam.
Efetivamente sentimos, no desenvolvimento de diversas atividades, que as pessoas se identificam com elas, louvam a iniciativa, no entanto, acabam por não se associar à sua concretização. E é este paradigma que importa mudar, porque, efetivamente, a participação dos locais revela o acolhimento genuíno dos imigrantes, dando assim início a relações sociais geradores de pontes entre culturas.
Queremos que as pessoas saiam da sua zona de conforto e não podemos pensar que as cidades mais pequenas potenciam de forma automática uma maior interação e integração.
- Destas atividades fica também a ideia de que os imigrantes mostram maior abertura para receber e para conhecer outras famílias. Concorda com esta ideia? A que se deve esta maior predisposição de quem vem de fora?
Sim. Muitos imigrantes estão cá sós ou acompanhados apenas pela família, pelo que, apesar de não podermos generalizar, podemos dizer que estão mais predispostos para estabelecerem novas amizades, conhecerem outras famílias... Procuram na sociedade de acolhimento, o que não puderam trazer do seu país de origem, a família alargada, os amigos, os contactos, as atividades que lá praticavam, etc. Por outro lado, trazem consigo a vontade de dar à sociedade de acolhimento o melhor de cada um deles, de nos transmitirem aspetos das suas culturas, nos ensinarem a sua língua materna, darem o seu contributo para a economia do país, etc.»
Notícia publicada no Jornal Diário Insular, edição de 1 de novembro de 2013
Publicado: Sexta, 01 Novembro, 2013
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