Em 2011, foi feito um inquérito em que 46,6 % dos inquiridos manifestaram que já foram discriminados nos serviços públicos, no arrendamento, nos restaurantes e bares e no trabalho...
Ontem, dia em que se assinalou o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial a AIPA apresentou, uma campanha que visará sensibilizar a população açoriana para a problemática do racismo. Assente na mensagem “Os imigrantes de todo o mundo ajudam a tornar os Açores numa região melhor - Diga Não ao Racismo”, a campanha que foi desenvolvida em regime Pro Bono pela agência de comunicação açoriana HDG-Açores está inspirada nos quadros de Domingos Rebelo (os Emigrantes) e de Tomás Vieira (os Regressantes). Fátima Parreira, da GDG-Açores explica que a campanha tem como objectivo mostrar à população açoriana que tendo os açorianos um passado baseado na emigração, principalmente nas décadas 60, 70 e 80, somos aqueles que melhor conseguem compreender a situação dos emigrantes actuais. Quisemos retratar isso com um novo quadro a que chamamos de “os Emigrantes”. Essa foi a ideia principal para a campanha e vamos agora começar um processo de divulgação, desenvolver acções e até ao final do anos esperamos conseguir sensibilizar a população. Vão ser enviados cerca de 20.000 cartões e postais para todas as residências açorianas, a alertar para as maneiras racistas e xenófobos que os açorianos têm para com os emigrantes. A população-alvo vai ser as crianças em espaço escolar porque são elas que levam “o recado para casa”, disse Cristina Borges, Vice-presidente da AIPA.
AIPA sensibiliza população escolar
A campanha contra o racismo apela à sensibilização das pessoas para o acolhimento dos que vêm de fora. À AIPA têm chegado várias queixas de emigrantes que se sentem discriminados, quer no aluguer de casas, de quartos, no trabalho não só em relação ao salário que lhes é dado mas também em relação aos contratos que não são celebrados, e ainda a recusa directa do posto de trabalho. De uma forma directa e outras vezes de maneira mais subtil os emigrantes sentem-se discriminados. Em 2011, foi feito um inquérito em que 46,6 por cento dos inquiridos manifestaram que já foram discriminados de variadas maneiras, tanto nos serviços públicos, no arrendamento de casas e quartos, na restauração e no trabalho. No que diz respeito a aluguer de casas ou quartos a percentagem ronda os 16% de recusas, sendo que a maior percentagem de queixas diz respeito à maneira como os emigrantes são tratados, isto é na maneira como se fala com eles, na maneira como se olha, na discriminação de não querer mais o contacto quer verbal ou físico mas sim o afastamento. Estes são de facto as principais formas de discriminação que os emigrantes mais se queixam, refere Cristina Borges, vice-presidente da AIPA, que se apresentou à comunicação geral acompanhada por Miguel Pombo, director-geral, e Paulo Mendes, presidente da associação, esteve à conversa com os jornalistas, por vídeo-conferência, uma vez que ficou retido no Corvo devido ao mau tempo que assolou a região ontem. Paulo Mendes registou que a compreensão dos Açores e das suas gentes é forçosamente feita a partir de um olhar sobre a sua diáspora, que foi construída como resposta à procura de melhores condições de vida por parte de muitas e muitos açorianos. Hoje, existe uma açorianidade que é vivida, ampliada e re(inventada) em muitos lugares deste nosso mundo. O ano de 2001 representou, no campo das migrações, um acréscimo desta vocação atlântica dos Açores, concretizado através da vinda de alguns milhares de imigrantes de tantos cantos e recantos do planeta. De repente, um espaço que tantas vezes serviu de cais de partida e de terreno para o crescimento da saudade, viu-se como um cais de chegada. Vivem hoje, nas nove ilhas, mais de 3000 estrangeiros, provenientes de mais de 80 nacionalidades, que somados às outras categorias de imigrantes, remetem-nos para uma dimensão muito próxima de 2% da população residente. Por isso, sublinha, é necessário um esforço colectivo para dizermos não ao Racismo. A campanha será contínua e envolverá um conjunto de actividades, nomeadamente: envio de postais com a imagem da campanha para um maior número possível de lares, realização de sessões e debates sobre o tema das diferentes escolas da região, estudo sobre a percepção da sociedade açoriana face a presença dos imigrantes, pintura de mural nas cidades com a imagem da campanha.
Correios dos Açores, 22 de março de 2012.
Publicado: Quinta, 22 Março, 2012
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