Alcides Amarante, presidente da associação Black Panters: A solidariedade como opção de vida
Esta Associação Juvenil tem um protocolo de cooperação com a AIPA.
Chama-se Alcides Amarante e é contabilista de profissão. Mas não é por isto que este praiense, nascido e criado na Várzea, é conhecido.
Aos 43 anos ele destaca-se pelo trabalho em prol dos mais necessitados num bairro de várias carências.
À frente da Associação Black Panters há oito anos, Amarante vem dando, cada vez mais, um cariz social à organização. Um trabalho que, diz, é a concretização quotidiana de uma opção de vida que o acompanha desde criança.
Quando começou com o trabalho social?
Oficialmente desde a fundação do Black Panters, há 25 anos. Mas essa missão de ajudar os mais necessitados faz parte da minha vida desde há muito, desde que entendi que podia fazer algo pelos mais carenciados, sobretudo tendo em conta o facto de que vivo numa comunidade carenciada. Apesar de ter sido uma criança pobre, sempre que via uma criança em dificuldade dizia que quando crescesse iria fazer algo para os mais necessitados. E tive essa oportunidade quando integrei no Black Panters.
Sabendo que tem que trabalhar para viver, como organiza a sua vida entre o trabalho e a actividade social?
Tento dividir o tempo, tendo sempre em conta que temos que fazer sacrifício quando queremos ajudar as pessoas. Mas arranjo tempo e não me sinto cansado.
E sobra tempo para a sua família, os seus filhos?
Sim. Felizmente eu tenho uma família que entende a minha vocação e que ajuda.
Nesses 25 anos de trabalho, tem registado algum momento que o marcou para sempre?
Sim. Fiquei sensibilizado depois de ter visitado algumas casas na Várzea e de ter acompanhado a realidade de algumas famílias no bairro, realidade que depois tornei pública através da comunicação social. Como consequência disso passei a ser perseguido.
E isto afectou o seu trabalho?
Não afectou. Eu continuei a trabalhar e depois quem me perseguiu passou a reconhecer o meu trabalho. Além disso as situações denunciadas foram resolvidas e a vida das pessoas envolvidas melhorou.
Tendo em conta o trabalho que faz, como é a sua relação com a comunidade?
As pessoas na Várzea meteram na cabeça que todos os proble-mas delas ou do bairro é a Black Panters que tem que resolver. Nós, do nosso lado, vamos resolvendo aquilo que é possível dentro das nossas limitações. Um exemplo do resultado desse trabalho é o infantário, que recebe diariamente 80 crianças, a maioria carenciadas e algumas órfãs, em dois períodos. Apoiamos idosos, buscamos a melhoria das habitações, dar respostas aos problemas dos jovens.
A BP é reconhecida?
Sim, somos. Nunca tivemos problemas com a comunidade, há muito respeito. É verdade que às vezes recebemos críticas, mas isto é normal, servindo para fortificar o nosso trabalho.
O Alcides é uma pessoa realizada?
Sou, pelo facto de estar a ajudar as pessoas. Isto porque penso que a realização das pessoas não está somente em satisfazer as suas necessidades pessoais. Ninguém pode se realizar assim. Sinto-me uma pessoa realizada mas com vontade de fazer mais.
Qual é o seu maior sonho?
Ver um maior número de pessoas da Várzea a ter uma vida melhor, ver as novas gerações a viver melhor. E estamos a trabalhar para isto, investindo em jovens e crianças, apostando na sua formação e em melhores condições de vida. Isto porque jovens mais capacitados podem contribuir para o desenvolvimento da comunidade.
Fonte: Asemana
Publicado: Segunda, 14 Novembro, 2005
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