A imigração é responsável por 87% do aumento da população portuguesa durante o ano de 2004, revelaram ontem dados do Eurostat. Tal é a estagnação na taxa de natalidade na Europa que, em muitos Estados, a imigração vai impedindo a população de decrescer acentuadamente: é o caso da Grécia, da Alemanha, mas surpreendentemente também da República Checa, Hungria e Eslovénia. Esta imigração, cada vez maior, tem contribuído para maiores taxas de emprego e maiores contribuições para os sistemas de previdência, adiando cenários de ruptura. Mas o sentimento social mais comum na Europa é o de desconfiança.
Esta tendência de entrada de imigrantes podia ser ainda maior, caso os Quinze tivessem permitido a livre circulação de trabalhadores de leste. Superando todas as expectativas, dezasseis meses depois do alargamento, há uma média de 16 mil europeus dos países de leste a procurarem todos os meses trabalho no Reino Unido - um dos poucos países que permitem a livre circulação de trabalhadores dos países do alargamento.
É muito mais do que tinha sido previsto por Bruxelas e pelo próprio Governo, que lançou uma estimativa de um total anual de 5 a 13 mil novos 'entrantes' de leste. Mas as autoridades inglesas notam que estas entradas contribuíram para reduzir a taxa de desemprego que atingiu 4,7% em 2004.
Em Portugal, os valores demonstram que a maior diferença nem é o afluxo de imigrantes mas a queda da natalidade. Em 1980, o número de novos imigrantes foi de 4,3% da população contra 4,5% em 2004, mas o número de nados-vivos foi de 6,5% da população em 1980, contra 0,7% no ano passado.
Nos dados divulgados ontem pelo Eurostat, também há países onde o saldo migratório tem um efeito inverso na população, denotando uma evasão para outros mercados de trabalho. O caso mais paradigmático é a Lituânia, onde a população caiu em 20,5 mil habitantes dos quais 9,5 mil emigraram. Em países como a Bulgária ou a Turquia, ambos a caminho da União, não se registou imigração em 2004. Mas se no primeiro caso, a população regrediu, no segundo a natalidade continua a aumentar a população (1,3% em 2004). Na Espanha, que está a braços com um problema bicudo de imigração do norte de África, regista-se o maior afluxo de imigrantes (610 mil, ou seja mais de 1,4% da população só em 2004).
Nascimentos fora do casamento
Em Portugal como na Europa, quase um terço das crianças nascem fora do casamento quando em 1980 esse indicador não chegava sequer aos 10%. Essa evolução reveladora de novas mentalidades é expressada nos números de todos os países europeus. Os nados-vivos fora do casamento atingem 55,4% na Suécia, 45% na França, Letónia e Dinamarca mas também 48% na Bulgária. Mais tradicionais, em alguns países do sul, o casamento continua a ser a instituição preferida para procriar: apesar dos aumentos substanciais, apenas 4,9% dos nascimentos são fora do matrimónio na Grécia.
Luís Rego
Diário Económico
Publicado: Quarta, 26 Outubro, 2005
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