Até uma escola de toureio pode trabalhar para a inclusão social. É o que acontece em Vila Franca de Xira onde dois jovens de classes desfavorecidas lutam pelo sonho de ser matadores de toiros. A luta contra a pobreza também se faz nas Instituições de Solidariedade Social que actuam sempre que detectam sinais de alarme. As famílias por vezes não têm alimentos para o fim de semana. O tema esteve em debate no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
Dois jovens do concelho de Vila Franca de Xira, que estavam praticamente abandonados pelas famílias, são alunos da Escola de Toureio José Falcão e têm grandes possibilidades de virem a ser bons matadores de toiros. Quem o diz é o presidente da Escola de Toureio José Falcão, António José Inácio, que é também presidente da Junta de Freguesia do Forte da Casa, e que falou no caso dos dois jovens como exemplo de inclusão. “A nossa escola tem ido buscar à rua crianças e jovens em situação de risco e tem feito a sua integração no mundo da tauromaquia, muitas vezes com estrondoso sucesso” garantiu o autarca que acredita na importância do trabalho em rede. O testemunho foi ouvido durante o encontro internacional dedicado ao combate à pobreza e exclusão social, que decorreu na noite de quarta-feira, 11 de Maio, no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Na plateia estavam muitos representantes de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e outras associações do concelho que contaram as experiências no combate à pobreza. “Entregamos muitas crianças a famílias que não têm comida ao fim-de-semana. Na cantina temos sempre alguma coisa e tentamos dar resposta”, revelou uma responsável do Centro de Bem Estar Infantil (CBEI) de Vila Franca de Xira. Os colaboradores da instituição estão atentos a todos os sinais evidenciados pelas crianças e respectivas famílias para actuar sempre que necessário. Miguel Santos, da ACIS, mostrou que uma das maneiras de combater a exclusão social passa por integrar os jovens, proporcionando formação e emprego. “Na ACIS aceitamos jovens para estágio e também já apresentámos candidaturas ao Instituto do Emprego no âmbito das Iniciativas Locais de Emprego”, referiu. O presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense, Mário Calado, mostrou-se preocupado com um grupo de imigrantes do Leste que está em Vila Franca de Xira. “Não será possível ajudar essas pessoas a regressar ao país de origem?”, perguntou. A presidente da autarquia aproveitou para dizer que existem muitos fenómenos de auto-exclusão. “Já colocámos muitos imigrantes num hotel em Lisboa para regressarem a casa e quando chegamos a Vila Franca de Xira eles já chegaram primeiro porque entretanto mudaram de ideias”, contou. Maria da Luz Rosinha lembra que Portugal, 25 anos depois da adesão à comunidade europeia, vive problemas muito sérios que obrigam a encontrar respostas para as novas formas de pobreza. “As novas comunidades de imigrantes, que já não são as das ex-colónias portuguesas mas as de Leste e mais recentemente a brasileira, levam as instituições de apoio a procurar novas maneiras de resolver os problemas”. Se muitas pessoas que encaram a pobreza como uma rotina e “só sabem viver destes mecanismos de ajuda” há uma realidade nova e preocupante: a das “famílias bem estruturadas e organizadas que se encontram pela primeira vez em situação de pobreza e têm vergonha de pedir ajuda”. O empreendedorismo é uma arma eficaz no combate à pobreza. A necessidade de continuar a trabalhar em rede, procurando soluções para as novas formas de pobreza, foi outra das ideias lançadas. “O combate à pobreza é feito com um novo tipo de empreendedorismo sustentável”, disse o investigador e professor universitário, Júlio Gonçalves Dias, realçando a necessidade de apoiar uma nova geração de empreendedores que criem empresas públicas e privadas. Hoje em dia já não basta dar uma cana e ensinar a pescar. Na opinião do investigador é preciso saber qual a cana que se vai dar. Também o convidado da Universidade Agostinho Neto de Luanda, em Angola, Fausto Carvalho Simões, reforçou que “o “empreendedorismo é a grande resposta no combate à pobreza e exclusão social”. “O trabalho em rede é fundamental para contribuir para os conceitos de liberdade e fraternidade”, acrescentou Robinson Tenório, da Universidade Federal da Baía, no Brasil, que se mostrou impressionado pela qualidade do trabalho e pelo envolvimento da comunidade no concelho. O Mirante, 20 de Maio de 2011.
Publicado: Sexta, 20 Maio, 2011
Web Development Via Oceânica 2009
Site em revisão para a adoção do novo acordo ortográfico.