Imigrantes produzem 5% da riqueza nacional
Por Ricardo David Lopes
A carência de mão-de-obra imigrante teria como consequência "mais provável a estagnação do crescimento económico", defende um estudo realizado por investigadores da Universidade Autónoma de Lisboa, que conclui que os cidadãos não comunitários empregados em Portugal produziram, em 2001, 5% da riqueza nacional.
Segundo o estudo - "Viagens de Ulisses - Efeitos da Imigração na Economia Portuguesa", de Eduardo Ferreira, Helena Rato e Maria João Mortágua -, o contributo dos imigrantes empregados para o Produto Interno Bruto português (medido em Valor Acrescentado Bruto) é proporcional à sua presença nos diversos sectores de actividade.
Partindo deste princípio, os investigadores estimam que os imigrantes sejam responsáveis por 14,8% da produção na construção civil, 11,7% na hotelaria e restauração e 9,6% nos serviços a empresas.
A nível nacional, o estudo, baseado em dados consolidados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Instituto Nacional de Estatística e Inspecção de Trabalho (IDICT) relativos a 2001, revela que os 233.508 empregados imigrantes constituem 5 a 6% da população activa. Por regiões, verifica-se que é no Algarve que os imigrantes mais contribuem para a criação de riqueza (17,5%), seguindo-se Lisboa e e Vale do Tejo (11,4%) e Alentejo (4,5%). No Norte, o contributo é menor, pois constituem apenas 2,1% da população activa.
A pesquisa - realizada para o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) através do Observatório da Imigração - constata que a maioria dos imigrantes "é utilizada como mão-de-obra pouco qualificada e (...) auferindo baixas remunerações".
Numa divisão por grupos, verifica-se que 37% dos imigrantes estão empregados em profissões de baixa qualificação, 31 % são operários, artifícies e similares e 12% laboram em serviços e vendas.
A pesquisa, referente apenas a trabalhadores por conta de outrém com autorização de residência ou permanência no país, conclui que "o aumento recente da imigração vem suprir o decréscimo da oferta de mão-de-obra"nos segmentos secundários do mercado, que se caracterizam por maior precaridade. Na prática, explica o documento, sem imigrantes neste segmento haveria uma "sub-utilização da capacidade produtiva instalada".
O estudo não incide sobre o impacto da imigração nas contas públicas, mas lembra que uma pesquisa publicada recentemente pelo ACIME - "Impacto da imigração nas contas do Estado" - revela que "os impostos pagos pelos imigrantes são superiores às prestações sociais de que usufruem". Segundo esse balanço, feito por André Correia d'Almeida, por cada estrangeiro legalizado (ou em vias de) empregado, o Estado português "ganhou", em 2001, cerca de 1400 euros.
Fonte: Notícia do Jornal de Notícias,
Publicado: Segunda, 24 Maio, 2004
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